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20.10.12



SOPA DE LETRAS
“São só palavras: teço ensaio e cena”

Extratos da Discografia da Legião Urbana

Monólogo

Cena 01 - Um quarto, uma cama, uma mulher acordando agarrada ao travesseiro, sentindo o vazio da perda, procurando a pessoa amada que se foi – tateando a cama com as mãos. Encontra a foto da amada, as lembranças pululam – acorda pensando que ainda estão juntas.

Ato 01 – Reminiscências

- Ei, olha só o que eu achei: achei um 3x4 teu e não quis acreditar que tinha sido há tanto tempo atrás. Um exemplo de bondade e respeito, que o verdadeiro amor é capaz.

É sereno o nosso amor e santo este lugar. Agora que temos nossa casa não precisamos dormir no chão, até que é bom, mas a cama chegou na terça. Vem, meu amor, é hora de acordar está um dia tão bonito lá fora e eu quero brincar.

Teu corpo é gostoso, teu corpo alimenta meu espírito, teu espírito alegra minha mente, tua mente descansa meu corpo, teu rosto é bonito. Trabalhei você em luz e sombra. E era sempre: Me fiz em mil pedaços, pra você juntar. Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais, faríamos florestas do deserto e diamantes de pedaços de vidro.

Quem modelou teu rosto? Quem viu a tua alma entrando? Quem viu tua alma entrar? Qual o teu signo? Qual é o teu arcano, tua pedra preciosa? Calculei seu ascendente num recibo de aluguel, acho tocante acreditares nisso.

Será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração? Por favor, amor me acredite, não há palavras para explicar o que eu sinto - estar contigo é o bastante.

Não vá embora, fique um pouco mais, ninguém sabe fazer o que você me faz. Quando não estás aqui sinto falta de mim mesmo e sinto falta do meu corpo junto ao teu.

É saudade então, e mais uma vez estou pensando em você, quero lhe ver. Você me veio como um sonho bom, eu não esqueço a riqueza que nós temos ninguém consegue perceber. E quando chega o fim do dia eu só penso em descansar e voltar pra casa, pros teus braços [pois] és o que tenho de suave.

Quero que saibas que me lembro, queria até que pudesses me ver, és parte ainda do que me faz forte – e, pra ser honest(a), só um pouquinho infeliz.

Cena 02 – Percebe que o amor não está mais ao seu lado, tudo acabou. Vicissitudes da relação: rotina, traições, falta de amor, de sexo.

Ato 02 – Revolta passional

E a rotina crescia como planta e engolia metade do caminho e a mudança levou tempo por ser tão veloz e eu fiquei completamente tont(a) procurando descobrir a verdade. Não entendo terrorismo, falávamos de amizade. Tudo está perdido mas existem possibilidades... Será que ninguém vê o caos em que vivemos?

Agora está tão longe vê, a linha do horizonte me distrai: dos nossos planos é que tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção. Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir.

Quando não há compaixão ou mesmo um gesto de ajuda o que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos? Preste atenção ao que eles dizem: ter esperança é hipocrisia. A felicidade é uma mentira e a mentira é a salvação.

Se a paixão fosse realmente um bálsamo o mundo não pareceria tão equivocado. Vai, se você precisa ir não quero mais brigar essa noite nossas acusações infantis e palavras mordazes que machucam tanto não vão levar a nada, como sempre.

Eu quis você e me perdi e me mesmo assim você me abandonou. Você quis partir e agora estou sozinh(a) mas vou me acostumar com o silêncio em casa, com um prato só na mesa. Não há por que voltar, não penso em te seguir, não quero mais a tua insensatez.

E essa escravidão e essa dor - não sei se isso termina logo e não há nada a fazer agora. Agora carrego em mim, uma dor triste, um coração cicatrizado. Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira e quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima...

Sei que ela terminou o que eu não comecei, falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém.

Não era isso que você queria ouvir?
Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão, ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão
Mas já disse que não tem e você ainda quer mais. Por que você não me deixa em paz?

Estou cansando de ser vilipendiado, incompreendido e descartado, quem diz que me entende nunca quis saber. Já que não me entendes, não me julgues, não me tente!

Maria Lúcia, aquela menina falsa, pra quem jurei o meu amor, que você não respeita, que é só um objeto, pra usar e jogar fora, depois de ter prazer. Seu interesse é só traição e mentir é fácil demais, tua indecência não serve mais - tão decadente e tanto faz!

Com o teu amor eu quero que sintas dor, eu quero ver-te em sangue e ser teu credor. Veja bem quem eu sou, trouxe flores mortas pra ti como um anjo caído. [E] fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Não confunda ética com éter, [pois] quando penso em você eu tenho febre.

Não penso em me vingar, não sou assim, a tua insegurança era por mim.

E depois de um dia difícil pensei ter visto você entrar pela minha janela e dizer:
- Eu sou a tua morte

Cena 03 – Parte para a militância política, depois da decepção amorosa como uma válvula de escape. Trocando de roupa para enfrentar a vida, ir ao trabalho.

Ato 03 – Militância Política

Que país é este? Que país é este???? Estou cansad(a) de ouvir falar em Freud, Jung, Engels, Marx – intrigas intelectuais em mesa de bar! O que eu quero eu não tenho, o que eu não tenho quero ter e acho que isso não tem nada a ver! Ninguém respeita a Constituição, ninguém vai me dizer o que sentir. Mas o que eu tenho é só um emprego e um salário miserável, eu tenho o meu ofício que me cansa de verdade.

Sei que existe injustiça, eu sei o que acontece, quero justiça, eu quero trabalhar em paz, eu quero trabalho honesto, em vez de escravidão. Somos os filhos da revolução, de uma revolução de merda, de generais de merda – eu não anistiei ninguém!

É o bem contra o mal e você de que lado está? Qual foi a semente que você plantou? Quem são teus inimigos? Quem é de tua cria? Pense só um pouco, não há nada de novo nas favelas, no senado: sujeira pra todo lado! Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim e agora você quer um retrato do país? Todos os índios foram mortos, nosso Estado não é nação, a juventude sem escolas, as crianças mortas, nossa desunião, o voto dos analfabetos, todos os impostos, queimadas, o trabalho escravo, todo roubo (e) a festa da torcida campeã!

Será que eu sou capaz de enfrentar a estupidez humana? A estupidez de todas as nações? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?
Só que agora é diferente aqui no nosso Belsen tropical: existem os tolos e existem os ladrões e há quem se alimente do que é roubo, mas vou guardar o meu tesouro, caso você esteja mentido.

Desde pequenos nós comemos lixo, comercial e industrial, mas agora chegou nossa vez, se a via crucis virou circo, estou aqui! A juventude sofre e ninguém parece perceber. Eu tenho um coração, eu tenho ideais e nos pontos de ônibus estão todos ali: a matilha de crianças sujas no meio da rua. E mais uma criança nasceu, não há mentiras nem verdades aqui só há os PM´s armados e as tropas de choque, tiram todas as minhas armas, como posso me defender? Essa justiça desafinada é tão humana e tão errada, nós assistimos televisão também, qual é a diferença????

A gente não queria lutar, e a gente não queria lutar, se lembra quando era só brincadeira, fingir ser soldado a tarde inteira? Mais uma guerra sem razão e já são tantas as crianças de armas na mão, quando querem transformar dignidade em doença, quando querem transformar esperança em maldição – o Brasil é o país do futuro: filósofos suicidas, agricultores famintos, desaparecendo embaixo dos arquivos! E o que que eu tenho a ver com isso? O que fazer pra todo mundo ficar junto? Sou brasileir(a) errad(a) vivendo em separado, contando os vencidos de todos os lados.

Ato 04 – O Recomeço...