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1.8.12

31 de julho

E hoje 31 de um mês que não termina
Enquanto esgostados estão os trocados
Desde o décimo quinto dia

No café da manhã restam os furos
do queijo coalho
No almoço as penas do frango morto
deixam podre o assoalho
No jantar a sopa engordurada
Do político proselitista

E algo me diz que mais uma noite
será sem nada

Mas tudo estaria bem se eu fosse candidato
Pelo partido purista
Não me faltariam jetons
Sexo casual
E beijos apaixonados cheios de batons
O pior deus é o da TFP
ele não ri
não chora
não beija na boca
de outro homem

É o deus da inveja
da ganância
do latifúndio
e da TV em cores

deus da tortura
da fortuna
da miséria alheia

É o deus que não lutou
contra os fariseus

É o deus que prega o povo
Na cruz de espinhos da exploração

E o que parece anacrônico
Desperta homilias dominicais
Resplandece no horário eleitoral
E nos canais das concessões públicas de TV

Passagem por Gorazde

Há tempos você não completava as músicas postadas por mim

Há tempos você não rimava letras minhas

Portões fechados por força da exceção
Ingratos porões lúgubres

Enjaulando os leões dos desejos

E quem irá velejar noutro cais?
Quem irá compor as lições de moral do novo fim de semana de agosto?
Quem irá rimar a ira do desgosto do sábado passado?

E enquanto deito e durmo furacões assolam plantações de gente viva

E cores mórbidas entregam flores mortas ao último suspiro de esperança